O número de pessoas tabagistas ativas no Brasil vem diminuindo ao longo dos anos. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2013 este número correspondia a 14,7% da população brasileira adulta (acima de 18 anos). No entanto, se considerarmos esta parcela da população em números totais, somado ao número de fumantes passivos, teremos ainda um número elevado de pessoas sujeitas aos danos à saúde causados por este hábito.
Sabemos hoje que, em termos globais, metade de todos os tabagistas terão morte em consequência de doenças relacionadas a esta prática, e que a cada 10 mortes no mundo todo, uma será em consequência do tabagismo.
Considerando o uso de cigarro como costume de uma parcela importante da população brasileira, com certa frequência vemos pacientes com este hábito em busca de procedimentos de Cirurgia Plástica. Por vezes, tais pacientes preferem ocultar esta informação do médico por medo de ter sua cirurgia contraindicada ou por minimizar sua importância. Entretanto, antes de qualquer decisão é importante estar esclarecido sobre os possíveis riscos que podem advir dessa combinação entre cirurgia plástica e tabagismo.
O cigarro contém inúmeras toxinas, incluindo nicotina, monóxido de carbono, cianeto de hidrogênio, óxido nítrico e outras. Todas estas toxinas são conhecidas por comprometer a cicatrização através de múltiplos mecanismos. Além de alteração do processo cicatricial, podemos incluir distúrbios cardiovasculares, aumento da pressão sanguínea e alterações na função respiratória.
E quais seriam os problemas destas alterações para uma Cirurgia Plástica?
Precisamos considerar que um ponto fundamental para alcançarmos os resultados desejados em Cirurgia Plástica é a boa cicatrização da ferida operatória. Sem isto, além de termos os resultados estéticos comprometidos, estaremos sujeitos ainda a outras possíveis complicações. Através do comprometimento da nutrição sanguínea e da oxigenação dos tecidos (incluindo os tecidos operados) e do sistema imunológico, o cigarro causa uma deficiência de todo o processo cicatricial, impedindo a recuperação da ferida operatória e dificultando a obtenção do resultado final. Ainda, o tabagismo aumenta os riscos de infecção das feridas operatórias e complicações cardíacas e pulmonares no pós-operatório.
Além dos riscos aos resultados da cirurgia, precisamos levar em conta também os riscos anestésicos associados ao tabagismo. Estes riscos não compreendem apenas as já citadas complicações cardíacas e respiratórias, mas também interferência no metabolismo de algumas medicações utilizadas durante o procedimento pelo anestesista, dificuldade de uma monitorização confiável dos sinais vitais durante a cirurgia e necessidade de maior quantidade de analgésicos para alívio da dor após o procedimento.
E quando seria o momento ideal de interromper o fumo antes de uma cirurgia?
Idealmente, a interrupção do tabagismo deve ser realizada o mais cedo possível. Entretanto, estudos mostram que a partir de 4 a 8 semanas após a suspensão do hábito de fumar, o comprometimento da cicatrização e da função pulmonar já reduzem de forma considerável.
Como este período de interrupção do tabagismo varia entre alguns estudos, é comum variar também as orientações entre os cirurgiões (geralmente entre 4, 6 ou 8 semanas). Independentemente desta variação de períodos, a ausência total do tabagismo no pré-operatório é sempre desejada e orientada pelos cirurgiões plásticos e anestesistas aos seus pacientes, na busca da redução de possíveis complicações.
E, se levarmos em conta os potenciais danos causados pelo tabagismo não só à cirurgia mas também à saúde dos pacientes ao longo da vida, temos nesta mudança comportamental pré-operatória uma excelente oportunidade de mudança comportamental para toda a vida.
Dr. Lourenço Santiago Senandes
CREMERS 33773 – RQE 28844