DUAL PLANE
O plano duplo para prótese de mama
A mamoplastia de aumento, ou “cirurgia de prótese de mama” como é mais conhecida,
apesar de muitas vezes abordada como um procedimento simples, apresenta inúmeras
nuances técnicas, as quais influenciam diretamente no seu resultado final. Longos anos
de evolução desta cirurgia, permitiram que essas variações fossem modificadas,
estudadas e avaliadas, buscando sempre os melhores e mais duradouros resultados.
A técnica conhecida como Dual Plane (plano duplo), resultou desta evolução das
técnicas, buscando maior naturalidade e durabilidade de resultados ao longo prazo.
Mas afinal, o que é este plano duplo? E qual o motivo para a sua utilização?
Inicialmente, para esclarecermos como funciona esta técnica, é necessária uma breve
explicação dos outros planos utilizados, algumas de suas vantagens e desvantagens para
que possamos compreender o porquê do dual plane.
Quando falamos em plano nas técnicas de mamoplastia de aumento, nos referimos à
posição em que a prótese de silicone é colocada em relação aos limites anatômicos da
mama. Ou seja, se a prótese é colocada em plano subglandular ou submuscular.
Uma prótese subglandular, é colocada logo abaixo da glândula mamária e logo acima do
músculo peitoral maior. Em geral, é a posição mais comum de se colocar o implante
mamário, pois alcança excelentes resultados em pacientes que já apresentam algum
volume de glândula mamária. No entanto, quando temos uma paciente muito magra e
que apresente um volume glandular muito pequeno, podem surgir alguns problemas
com esta técnica, principalmente ao longo prazo. Isto ocorre porque ao colocarmos uma
prótese logo abaixo da glândula nesses casos, não haverá tecido glandular (e nem tecido
gorduroso) suficiente para cobri-la. Além disso, uma tendência natural é a atrofia, tanto
da gordura subcutânea quanto da glândula ao longo dos anos, causada pela pressão da
prótese nesses tecidos. Dessa forma, o resultado é a evidência dos contornos da
prótese, mais marcados na porção superior e medial (no meio das mamas) em curto
prazo e uma possível evidência de todos os contornos da prótese (inclusive de seus
relevos = rippling) através da pele ao longo prazo.
A prótese submuscular, como o nome já diz, é colocada abaixo do músculo peitoral
maior. Dessa forma, alcança-se uma melhor cobertura para os implantes, pois teremos,
além da pele, da gordura e da glândula, o músculo acima dela. Sendo assim, as
desvantagens acima citadas da prótese subglandular em pacientes muito magras são
contornadas nesta técnica. No entanto, existem desvantagens na utilização deste plano
que limitam o seu uso. Um implante submuscular fica mais sujeito à dinâmica do
músculo que o está cobrindo do que da glândula mamária. Assim, podemos ter uma
prótese que visivelmente irá se movimentar com a contração do músculo peitoral maior,
elevando sua posição, enquanto a glândula mamária permanece imóvel com esta atividade.
Além disso, ao longo prazo, a prótese pode não acompanhar a tendência da
“queda” (ptose) da mama, sendo mantida em sua posição pelo músculo enquanto a
mama assume uma posição mais inferior, dando um aspecto desagradável aos seios.
A utilização da posição em plano duplo dos implantes mamários, surgiu com o objetivo
de utilizar as vantagens das duas técnicas citadas acima e contornar as suas
desvantagens ao mesmo tempo.
Para atingir os seus objetivos, a cirurgia é realizada criando-se um espaço para colocação
da prótese abaixo do músculo peitoral maior. No entanto, diferente da técnica
submuscular, a inserção (ponto de fixação) deste músculo no sulco inframamário
(abaixo da mama) é totalmente liberado. O resultado disto é que a borda mais inferior
do músculo sobe, de modo a cobrir apenas a porção superior da prótese, permitindo
que sua porção inferior fique em contato com a glândula mamária (subglandular). Desta
forma, a região da mama que possui menor quantidade de glândula e gordura para
cobrir a prótese (superior e medial) terá a contribuição da cobertura do músculo sobre
a prótese, sem que essa cobertura muscular se estenda até a porção inferior da prótese.
Em resumo, as vantagens principais dessa cobertura heterogênea sobre o implante são
as seguintes:
• O músculo cobrirá as regiões mais prováveis de se tornarem visíveis da prótese
se ela estivesse em posição subglandular (ou seja, sua porção superior e medial).
Isso resulta também em uma transição mais natural entre tórax e o polo superior
da mama.
• O músculo, não se estendendo até a porção inferior da prótese, não poderá
movimentá-la durante sua contração, como poderia ocorrer em plano
submuscular.
• A prótese terá a tendência a seguir a “queda” natural das mamas, seguindo a
dinâmica natural da glândula mamária, e não do músculo.
Dentro da técnica dual plane, existem variações, classificadas em tipos I, II e III. Esta
classificação se baseia no quanto será necessário elevar a posição da borda inferior do
músculo, sendo indicada de acordo com as características e medidas individuais das
mamas de cada paciente.
Uma preocupação esperada e natural das pacientes é a intensidade da dor no pós-
operatório da cirurgia. Existe a ideia de que a posição em plano duplo, por descolar o músculo peitoral,cause mais dor do que a técnica subglandular. Entretanto, por ser um procedimento com tendência a apresentar menos sangramento e descolamento tecidual mais simples do que a subglandular, a dor no pós-operatório é reduzida,
permitindo uma recuperação confortável para as pacientes.
Outra dúvida comum entre as pacientes, após compreenderem o procedimento, é
quanto às possíveis sequelas funcionais que esta liberação do músculo pode causar.
Assim, é importante perceber que a liberação do músculo ocorre apenas no sulco abaixo
da mama, preservando-se sua inserção na clavícula e esterno (ossos da região torácica).
Dessa forma, o músculo peitoral ao se contrair continuará com suas funções preservadas
e inalteradas.
Por fim, sempre é importante lembrar que cada técnica possui suas indicações
específicas, de modo que não existe uma técnica aplicável para todos os casos. A
avaliação individualizada de cada paciente e a indicação mais adequada da técnica a ser
usada irá depender de inúmeros fatores que serão avaliados pelo seu Cirurgião Plástico.
Dr. Lourenço Senandes (CREMERS 33773 / RQE 28844)
Cirurgião Plástico Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica